quinta-feira, 17 de outubro de 2013

|CRÍTICA| Não é Preciso Ser Religioso para Ser Caridoso


Octavio da Cunha Boteho



 
Surpreendentemente, os países mais religiosos não
são os mais caridosos, segundo pesquisa.
           Seria natural pensar que os países mais religiosos, sobretudo os mais cristãos, seriam aqueles com a população mais caridosa do mundo. Nada disto, portanto prepare-se para deletar esta ideia da sua cabeça. Resultado da última pesquisa do Instituto Gallup, em 2012, encomendada pela Charities Aid Foundation (CAF), divulgada através do Índice de Caridade Mundial (World Giving Index – WGI), revelou que os países no topo do ranking de maior caridade são alguns dos com a população majoritariamente  ateia, ou com o ateísmo em crescimento nas últimas décadas. A pesquisa leva em conta três atos da caridade:
a) doação em dinheiro a uma organização,
b) tempo de serviço voluntário em uma organização e
c) ajuda a um estranho necessitado.
O índice (WGI) é apresentado através de uma pontuação na forma de um score traduzido em porcentagem da população envolvida na caridade, de modo que, as populações com as maiores porcentagens são as mais caridosas do mundo. Então, o ranking ficou assim:
1º Austrália com o score de 60%,
2º Irlanda com o score de também 60%,
3º Canadá com 58%,
4º Nova Zelândia com 57%,
5º EUA com 57% e
6º Holanda com 53%.
O Brasil, a segunda maior população cristã e a maior população católica do mundo, amargurou um vergonhoso 83º lugar com o score de apenas 27%, confirmando que é um país com uma população com muita fé, mas com pouco espírito caridoso, mais um exemplo de que ter crença não é sinal de ter religiosidade, ou mesmo, de ter espírito generoso. Isto é, a maioria da população cristã aqui é religiosa apenas da boca para fora, enfim, são muitos os que se declaram cristãos, porém, em contrapartida, muitos poucos os que efetivamente praticam.
Se fosse correto o raciocínio de que as populações mais cristãs seriam as mais caridosas do mundo, então o topo deste ranking deveria ser ocupado pelos países mais cristãos, porém observe que, segundo esta pesquisa, a realidade não é assim. Veja abaixo uma relação dos países mais católicos e suas respectivas posições no ranking do Índice de Caridade Mundial (WGI):
- Honduras (97% católicos) posição no WGI: 31º lugar com o score de 40%
- Equador (95% católicos) posição no WGI: 128º lugar com o score de 17%
- Venezuela (95% católicos) posição no WGI: 123º lugar com o score de 19%
- Argentina (92% católicos) posição no WGI: 94º lugar com o score de 24%
- Colômbia (90% católicos) posição no WGI: 42º lugar com o score de 37%
- Itália (90% católicos) posição no WGI: 57º lugar com o score de 33%
- México (76% católicos) posição no WGI: 75º lugar com o score de 28%
- Brasil (64% católicos) posição no WGI: 83º lugar com score de 27%.
Austrália, onde o ateísmo é crescente, está no topo dos mais
caridosos
O resultado desta pesquisa nos leva a refletir sobre a razão porque países com o alto índice de ateísmo, ou com o ateísmo em crescimento nas últimas décadas, como a Austrália, a Irlanda, a Holanda e a Nova Zelândia praticarem a caridade mais que as nações majoritariamente cristãs. A resposta poderá ser que, nas sociedades de melhor qualidade de vida, onde o senso de egoísmo foi superado, em virtude da alta escolaridade, e a religião não tem mais utilidade cultural e social, as virtudes da religião, que ainda têm utilidades culturais e sociais, tais como a caridade e a generosidade, foram absorvidas pela cultura secular destes países, de modo que estas virtudes são percebidas não mais como uma prática religiosa, mas sim como uma responsabilidade social e uma sensatez humanística. Ou seja, o papel da religião foi substituído por outros órgãos sociais e instituições (ONG’s, Cruz Vermelha, grupos assistenciais, etc.). Enfim, o resultado desta pesquisa demarca claramente a divisão, no mundo atual, entre aquelas sociedades e pessoas que ainda precisam da religião e aquelas que já conseguiram substituir a religião por outros órgãos e instituições sociais de efetiva contribuição social para o bem estar da população, por isso estes países ocupam o topo do ranking dos índices de Desenvolvimento Humano (IDH) e de Felicidade da População (GHI).   
Em suma, o que o resultado desta pesquisa nos leva a concluir é que não é preciso estar embebido de crença cristã para ser um caridoso, basta superar o egoísmo e ter responsabilidade social, um trabalho educativo que foi feito pelas escolas nos países mais bem ranqueados, e não pelas igrejas.  



Um comentário:

  1. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir